WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Tradução Pietro Nassetti. Editora Martin Claret.
1º- (...) o fato de que os homens de negócios e donos do capital, assim como os trabalhadores mais especializados e o pessoal mais habilitado técnica e comercialmente das modernas empresas, são predominantemente protestantes. (pag. 39)
2º- A regra da Igreja Católica, “punido o herege, mas perdoando o pecador”- mais no passado do que no presente-, é hoje tolerada pelas pessoas de caráter econômico completamente moderno, e nasceu entre as camadas mais ricas e economicamente mais avaçadas do planeta por volta de século XV. (pag. 40)
3º- (...) O católico é mais quieto, tem menor impulsom aquisito; prefere uma vida a mais segura possível, mesmo tendo menores rendimentos, a uma vida mais excitante e cheia de riscos, mesmo que esta possa lhe propiciar a oportunidade de ganhar honrarias e riquezas. Diz o provérbio, jocosamente: “Coma ou durma bem: neste caso, o protestante prefere comer bem, e o católico, dormir sossegada”. (pag.43)
4º- (...) espírito protestante e a cultura capitalista moderna, deveremos tentar encontrá-la, bem ou mal; não na alegria de viver mais ou menos materialista, ou ao menos antiascéticas, mas em suas características puramente religiosas. Montesquiei diz dos ingleses que “foram, de todos os povos, os que mais progrediram em três aspectos importantes: na religião, no comércio e na liberdade”. (pag. 45-46)
5º- Lembra-te que o dinheiro é de natureza prolífica e geradora. O dinheiro pode gerar mais, e assim por diante. (pag. 48)
6º- Lembra-te do ditado: o bom pagador é dono da bolsa alheia. Aquele que é conhecido por pagar exata e pontualmente na data prometida pode, a qualquer momento e em qualquer ocasião, levantar todo o dinheiro de que seus amigos possam dispor. (pag. 48)
7º- (...) A honestidade é util, pois assegura o crédito; e é assim com a pontualidade, com a industriosidade, com a frugalidade, e essa é a razão pela qual são virtudes. (...), que a aparência de honestidade serviria ao mesmo proposito quando fosse suficiente... (pag. 50)
8º- De fato, o summum bonum dessa ética, o ganham mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento estrito de todo prazer espontâneo de viver é acima de tudo, completamente isento de qualquer mistura eudemonista, para não dizer hedonista; é pensado tão puramente como um fim em si mesmo, que do ponto de vista da felicidade ou da utilidade para o individuo parece algo transcendental e completamente irracional. O homem é dominado pela geração de dinheiro, pela aquisição como propósito final da vida. (pag.51)
9º- (...) a pergunta porque devemos fazer dinheiro às custas dos homens, o próprio Benjamin Franklin, embora não fosse um deista convicto, responde em sua autobiografia com uma citação da Biblia que lhe fora inculcada pelo pai, rígido calvinista, em sua juventude: “Vês um homem diligente em seus afazres? Ele estará acima dos reis”. (Provérbios 22,29). (pag. 51)
10º- (...). O capitalismo atual, que veio para dominar a vida econômica, educa e seleciona os sujeitos de quem precisa, mediante o processo de sobrevivência econômica do mais apto. (pag. 52)
11º- (...) contra o qual o espírito do capitalismo, entendido como padrão de vida definido e que clama por sanções éticas, teve de lutar foi esse tipo de atitude e reação contra as novas situações, que poderemos designar como tradicionalismo. (pag.55)
12º- (...). O homem não deseja “naturalmente” ganhar mais e mais dinheiro, mais viver simplesmente como foi acostumado a viver e ganhar o necessário para isso. (pag. 56)
13º- A forma de organização era, em todos os seus aspectos, capitalistas; às atividades do empreendedor tinham um caráter puramente comercial; o uso do capital investido no negócio era indispensável, (...) o espírito que animava o empresário, tratava-se de um negócio tradicionalista: tradicional o modo de vida, tradicional a margem de lucro, tradicional a quantidade de trabalho, tradicional o modo de regular as relações com o trabalho e essencialmente tradicional o círculo de clientes e o modo de atrair novos. (pag. 60-61)
14º- (...) os ricos morriam, eram transferidas para as intituições religiosas como divida de consciência, e por vezes até retornavam como usura aos devedores anteriores, de quem tinham sido cobradas injustamente. (pag. 65)
15º- Trabalham a serviços de uma organização racional para suprir a humanidade de bem materiais certamente jamais deixou de representar para o espírito capitalista um dos mais importantes propósitos da vida profissional. (pag. 66)
16º- (...) no sentido numérico populacional e de volume de negócios que o capitalismo associa à palavra, fazem parte, obviamente, da satisfação específica e certamente idealista da vida do moderno homem de negócios. (pag. 67)
17º- Poderia então paracer que o desenvolvimento do espírito capitalista seria mais bem compreendido coo sendo parte do desenvolvimento do racionalismo como um todo, e que poderia ser deduzido das posições fundamentais do racionalismo sobre os problemas básicos da vida. (pag. 67)
18º- (...)- racionalizar a vida a partir de pontos de vista fundamentalmente diferentes e em direção muito diferentes. (pag. 68)
19º- O único modo de vida aceitável por seus não estava na superação da moralidade mundana pelo ascetismo monástico, mas unicamente no cumprimento das obrigações impostas ao individuo pela sua posição no mundo. (pag. 70)
20º- Os circulos religiosos que celebram hoje com muito entusiasmo os grandes resultados da Reforma não são amigavéis para com qualquer forma de capitalismo. (pag. 71)
21º- Cromwell (...), escreveu ao parlamento: “Seja do agrado reformar os abusos de todos as profissões: e se houver alguma que faça pobres a muitos e ricos a poucos, ela não convém à comunidade”. (pag. 71)
22º- Poder-se-ia atingir a salvação em qualquer caminho da vida; na curta peregrinação da vida não faria sentido dar importância ao tipo de profissão. (pag.73)
23º- (...). Sua vocação é algo que o homem deve aceitar como uma ordem divina, à qual deveria se adaptar. (pag. 73)
24º- Na história, houve quatro formas principais de protestantismo ascético (...): o calvinismo, na forma que assumiu na principal área de influência na Europa ocidental, especialmente no século XVII, o pietismo, o metodismo e as seitas que se desenvolveram a partir do movimento batista. (pag.81)
25º- (...) O homem daquele tempo se preocupa com dogmas abstratos em uma extensão que, por si só, só pode ser compreendida quando percebemos a conexão desses dogmas com interesses religiosos práticos. (pag. 83)
26º- “Capitulo III (do Decreto Eterno de Deus), nº 3. Por decreto de Deus, por manifestação de Sua glória, alguns homens e anjos são predestinados à vida eterna, e outros são fadados à morte eterna”. (pag. 84)
27º- (...), Deus não existe para os homens, mas os homens existem por causa de Deus. Toda a criação, até mesmo o fato, indubitável para Calvino, de que só poderia ter significado como um meio para a glória e majestade de Deus. (pag. 86)
28º- (...). Tudo o mais, até mesmo o significado de nosso destino individual, está envolto em tenebroso mistério que seria impossível esclarecer e presunçoso questionar. (pag. 86)
29º- (...)- a eliminação da magia do mundo, que começara com os antigos profetas hebreus e juntamente com o pensamento científico helenistico-repudiou todos os meios mágicos para a salvação como sendo superstição e pecado, atingindo aqui a sua conclusão lógica. (pag.88)
30º- (...), e Bailey exorta abertamente a não se confiar em ningém e a não se dizer nada de comprometedor para quem quer seja. (pag.88)
31º- O mundo existe para servir à glorificação de Deus, e só para esse propósito. Os cristãos eleitos estão no mundo apenas para aumentar a glória de Deus, obedecendo a Seus Mandamentos com o melhor de suas forças. Deus, porém, requer realizações sociais dos cristãos, porque Ele quer que a vida social seja organizada conforme Seus Mandamentos,... (pag. 90)
32º- (...). O amor fraternal, uma vez que só poderia ser praticado pela glória de Deus e não em benefício da carne, (...) (pag. 90)
33º- (...) o conhecimento de que Deus havia feito a escolha, dependendo, além disso, apenas daquela confiança implícita em Cristo, que é o resultado da verdadeira fé. (pag. 91)
34º- (...) Lutero prometia a Graça se eles se entregassem confiantes a Deus em uma fé penitente foram produzidos esses santos autoconfiantes, a quem podemos redescobrir nos rígidos mercantes puritanos dos tempos heróicos do capitalismo e, em exemplos isolados, também na atualidade. (pag. 92)
35º- (...). O nome em si, desconhecido pela fé reformada sob essa forma, sugere um sentimento de verdadeira absorção na divindade, uma entrada real de Deus na alma do crente. É qualitativamente similar ao objetivo da contemplação dos místicos alemães, e é caracterizada pela sua busca passiva do preenchimento do anseio do descanso em Deus. (pag. 93)
36º- O crente religioso pode assegurar-se de seu estado de graças quer se sentindo como recipiente do Espírito Santo quer se sentido instrumento da vontade divina. (pag. 93)
37º- Na prática, isso significa que Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo. Assim, o Calvinista, como à vezes se diz, criava por si a própria salação ou, como seria mais correto, a convicção disso. Mas esta salvação não poderia, como no catolicismo, consistir em um gradual acúmulo de boas ações individuais para crédito pessoal,e sim em um autocontrole sistemático que a qualquer momento se desfronta com a alternativa inexorável – escolhido ou condenado. (pág. 94-95)
38º- Na prática. Isso significa que Deus ajuda a quem ajuda a si mesmo. Assim, o Calvinista, como à vezes se diz, criava por si a própria salvação ou, como seria mais correto, a convicção disso. Mas esta salvação não poderia, como no catolicismo, consistir em um gradual acúmulo de bons ações individuais para crédito pessoal, e sim em um autocontrole sistemático que a qualquer momento se defrontaria com a alternativa inexorável- escolhido ou condenado. (pág. 94-95)
39º- (...). O Deus do Calvinismo exigia de seus crentes não boas ações isoladas, mas uma vida de boas ações combinadas em um sistema unificado. Não havia lugar para o ciclo, muito humano, dos católicos, de pecado, arrependimento, reparação e libertação, seguido de um novo pecado. Nem havia balança alguma de mérito para uma vida como um todo, que pudesse ser ajustada por punições temporais ou pelos meios da graça das Igrajas. (pág.96)
40º- (...). A influência da sabedoria temente a Deus, mas perfeitamente sem emoção, dos hebreus, como está expressa nos livros mais lidos pelos puritanos, os Provérbios e os Salmos, pode ser percebida em sua atitude diante da vida...(pág.100)
41º- Alguém que tenha entrado alguma vez em dívida poderá pagar os juros acumulados por meio do produto de suas boas ações, mas nunca pagar a dívida principal. (pág.104)
42º- Historicamente, a doutrina da predestinação é também o ponto de partida do movimento ascético geralmente conhecido como pietismo. (pág. 104)
43º- (...); 2) “a Provedência de Deus trabalham por meio daqueles que estão em tal estado de perfeição”, isto é, Ele lhes dá Seus sinais, se eles esperarem pacientemente e deliberarem metodicamente. (...); e o próprio Deus abençoava Seus eleitos por meio do sucesso de seu trabalho, coisa inegável para eles e, como veremos mais adiante, também para os puritanos. (pág.107)
44º- (...). Sem a luz interior, o homem natural, mesmo se guiado pela razão natural, continuaria sendo puramente uma criatura da carne, cuja irreligiosidade era condenadas pelos batistas, inclusive os quacres, quase mais duramente do que pelos calvinistas. (pág. 116-117)
45º- (...). A finalidade dessa espera silenciosa é sobrepujar tudo o que é impulso e irracional, as paixões e os interesses subjetivos do homem natural. Ela é a de se aquietar, para criar aquele profundo repouso da alma, única condição em que a palavra de Deus pode ser ouvida. Naturalmente, essa espera pode resultar em condições histéricas, profecias, e, enquanto perdurarem esperanças escatológicas, em certas circunstâncias, até mesmo na eclosão de entusiasmo quiliástico, como é possível em todos os tipos similares de religião. (pág.117)
46º- (...), a imensa importância atribuída pela doutrina batista da salvação ao papel da consciência como revelação de Deus ao individuo deu à sua conduta na vida laica um caráter que teve o maior significado no desenvolvimento do espírito do capitalismo (...). (pág. 119)
47º- (...) “a honestidade é a melhor politica”. (...) Na direção da liberação de energia para a aquisição privada. Apesar de todo o legalismo formal dos eleitos, a observação de Goethe de fato se aplica muitas vezes ao calvinismo: “O homem de ação é sempre impiedoso; nenhum tem consciênciamas observação.” (pág. 119)
48º- (...). Para um tempo em que o além significava tudo, quando a posição social de um cristão dependia de sua comunhão, os clérigos, com seu ministério, a disciplina da Igreja e a pregação exerciam uma influência ( que pode ser apreciada nas coleções dos consilia, dos casus conscietial, etc.) que nós, homens modernos, somos totalmente incapazes de imagina. Naquele tempo as forças religiosas que se expressavam por esses canais eram as influências decivisas na formação do caráter nacional. (pág. 122)
49º- (...). A riqueza em si constitui grande perigo; suas tentações não têm fim, e sua busca não é apenas sem sentido, se comparada com a importância superior do Reino de Deus, mas também moralmente suspeita. (pág. 123)
50º- (...). A verdadeira objeção moral é quanto ao afrouxamento na segurança da posse, ao gozo da riqueza com o subsequente óscio, às tentações da carne e, acima de tudo, ao desvio da busca de uma vida de retidão (...). Pois o eterno repouso dos santos se encontra no outro mundo; o homem sobre a terra deve, para ter certeza deste estado de graças, “ trabalhar naquilo que lhe foi dstinado, ao longo de toda a sua jornada.” ( pág.123)
51º- (...) à produção da riqueza privada, o ascetino condenava tanto a desonestidade como a avarea compulsiva. O que condenava como ganância, “mamonismo”, etc. era a buca da riqueza por si mesma, pois a riqueza é em si uma tentação. Mas aí o ascetismo era o poder de “sempre querer o bem, embora se crie o mal”; o mal, neste sentido, era a posse e suas tentações. (pág. 133)
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