MAQUIAVEL. O Príncipe; Comentado por Napoleão Bonaparte. Tradição: Pietro Nassatti 7ª edição. Editora afiliada.
1º - (...) para conhecer bem a natureza do povo é precioso ser príncipe, e para conhecer melhor a natureza dos príncipes é preciso ser do povo. (pag. 14)
2º - Todos os Estados que existem e já existiram são e foram sempre repúblicas ou principados. Os principados ou são hereditários, quando por muitos anos os governantes pertencem à mesma linhagem, ou foram fundados recentemente. (pag. 15)
3º - (...) os homens mudam de governantes com grande facilidade, esperando sempre uma melhoria. Essa esperança os leva a se levantar em armas contra os atuais. E isto é um engano, pois a experiência demonstra mais tarde que a mudança foi para pior. (pag.18)
4º - Passa-se algo parecido com a tísica, que, conforme os médicos, no princípio é fácil de curar de diagnosticar, e que, com o tempo, quando não é desde logo reconhecida e tratada, torna-se fácil de reconhecer e difícil de tratar. É o que ocorre com os negócios do Estado: pois a antevisão (o que só é dado ao homem prudente) dos males que virão torna possível curá-los facilmente. Porém, quando esses males se avolumam, por falta de tal previsão, de modo que todos podem já reconhecê-los, não há mais remédio que possa controlá-los. (pag. 24)
5º - O desejo de conquista é algo muito natural e comum; aqueles que obtêm êxito na conquista são sempre louvados, e jamais censurados; os que não têm condições de conquistar, mas querem fazê-lo a qualquer custo, cometem um erro que merece ser recriminado. (pag. 26)
6º - (...). No curso da história, os reinos têm sido governados de duas formas: por um príncipe e seus assistentes, que, na qualidade de ministros, o ajudam a administrar o país, agindo por sua graça e licença; ou por um príncipe e vários barões, cuja posição não se explica por uma mercê do soberano, mas pela antiguidade da própria linhagem. Esses barões têm súditos e territórios próprios, onde são reconhecidos como senhores, e aos quais estão ligados por laços de natural afeição. Nos Estados Unidos governados por um príncipe e seus ministros, o monarca tem maior autoridade, pois em tais reinos ninguém é tido como superior. Se obedece a alguém é porque se trata de um ministro ou funcionário do príncipe- o que não inspira qualquer estima particular. (pag. 29-30)
7º - (...). Nas repúblicas, por outro lado, há mais firmeza, brio, maior ódio, e desejo de vingança; não poderão abandonar a memória de sua antiga liberdade. (pag. 34)
8º - (...) na verdade, os homens seguem quase sempre caminhos já percorridos por outrem, agindo por imitação. (pag.35)
9º - Aqueles que se tornam príncipes pelo seu valor conquistam domínios com dificuldades, mas os mantêm facilmente; a dificuldade se origina em parte nas inovações que são obrigados a introduzir para organizar seu governo com segurança. (pag.37)
10º - (...). Quando os ricos percebem que não podem resistir à pressão da massa, unem-se, prestigiando um dos seus e fazendo-o príncipe, de modo a poder perseguir seus propósitos à sombra da autoridade soberana. O povo, por outro lado, quando não pode resistir aos ricos, procura exaltar e criar um príncipe dentre os seus que o proteja com sua autoridade. Quem chega ao poder com a ajuda dos ricos tem maior dificuldade em manter-se no governo do que é apoiado pelo povo, pois está dirigi-los ou ordenar tudo o que lhe apraz. (pag. 56-57)
11º - (...) o soberano está obrigado a ter sempre o mesmo povo, mas pode facilmente dispensar a mesma nobreza, podendo fazer e desfazer os nobres a qualquer momento, cocedendo-lhes ou retirando-lhes o prestígio de que desfrutam à sua vontade. (pag.58)
12º - (...), quem se tornar um príncipe pelo favor do povo deve manter sua estima- o que não lhe será difícil, pois a única coisa que o povo pede é não ser oprimido. (pag. 58)
13º - (...). Tão fortes e de tal qualidades são estes que pertimem aos príncipes se manterem no poder qualquer que seja sua conduta e modo de vida. Só esses príncipes podem ter Estados sem defendê-los e súditos sem governá-los; e seus Estados, mesmo sem ser defendidos, não lhes são tomados. Não sendo governado, o povo não se ressente com sua autoridade, nem pensa poder subtrair-se a ela. Somente esses Estados, portanto, são seguros e felizes. (pag.64)
14º - (...). E como não pode haver boas leis onde não há bons soldados, devendo haver boas leis quando os soldados são bons... (pag. 67)
15º - (...) os príncipes os pecados, (...) (pag. 68)
16º - (...), como os exércitos servem ou a um príncipe ou a uma república, é o príncipe que deve colocar-se em pessoa no comando, e a república deve enviar para comandá-lo um dos seus próprios cidadãos. (pag. 68)
17º - As forças auxiliares, pedidas a um vizinho poderoso como ajuda para a defesa do Estado, são tão inúteis quanto às mercenárias. (...). As tropas auxiliares podem ser si mesmas eficazes, mas são sempre perigosas para os que delas se valem-se são vencidas, isto representa uma derrota; se vencem, aprisionam quem as utiliza. (pag.73)
18º - Em conclusão, nenhum príncipe pode ter segurança sem seu próprio exército, pois, sem ele, dependerá inteiramente da sorte, sem meios confiáveis de defesa, quando surgirem dificuldades. Os sábios sempre souberam e proclamaram que quod nihil sit tam infirmum aut instabile quam fama potentiae non sua vi nixa – “nada é tão fraco e instável quanto a fama de uma potência que não se apóia na própria força. (pag.77)
19º - (...), não podemos comparar um homem armado e um homem desarmado... (pag. 79)
20° - Os príncipes nunca devem permitir, portanto, que seus pensamentos se afastem dos exercícios bélicos; exercícios que devem praticar na paz mais ainda que na guerra, de duas formas: pela ação física, além de manterem seus homens bem disciplinados e exercitados, devem praticar sempre a caça, que habitua o corpo às agruras. A caça ensina a natureza das regiões, a posição das montanhas, a abertura dos vales, e extensão das planícies; a compreender a natureza dos rios e dos pântanos, o que requer muita atenção. (pag. 79)
21º - (...). De fato, o modo como vivemos é tão diferente daquele como deveríamos viver, que quem despreza o que se faz e se atém ao que deveria ser feito aprenderá a maneira de se arruinar, e não a defender-se. Quem quiser praticar sempre a bondade em tudo o que faz está fadado a sofrer, entre tantos que não são bons. (pag.82)
22º - (...) ser considerado liberal; a liberdade, contudo, praticada de modo que seja vista por todos, prejudicará o príncipe. Se praticada com virtude, do modo apropriado, não será reconhecida, levando à reputação do vício contrário. Quem quiser ganhar reputação de liberalidade não descuidará de praticar atos suntuosos.(...) (pag.84)
23º-Chegamos assim à questão de saber se é melhor ser amado do que temido. A resposta é que seria desejável ser ao mesmo tempo amado e temido, mas que, como tal combinação é difícil, é muito mais seguro ser temido, se for preciso optar. De fato, pode-se dizer dos homens, de modo geral, que são ingratos, volúveis, dissimulados; procuram se esquivar dos perigos e são gananciosos; se o príncipe os beneficia, estão inteiramente do seu lado.(...) (pag.88)
24º- (...). Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha. (pag. 89)
25º - (...), com respeito ao ser temido e amado, que os homens amam de acordo com seu próprio arbítrio, mas temem segundo a vontade do príncipe; portanto, o príncipe sábio deve apoiar-se nos meios a seu alcance, e não no que depende do poder alheio, devendo apenas evitar o ódio, como já se explicou. (pag.90-91)
26º- Todos sabem que é louvável em um príncipe manter a palavra empenhada, e viver com integridade e não com astúcia. Entretanto, a experiência dos nossos dias mostra que os príncipes que tiveram pouco respeito pela palavra dada puderam com astúcia confundir a cabeça dos homens e chegaram a superar os que basearam sua conduta na lealdade. (pag.92)
27º- (...). A parábola desse professor meio-humano e meio-animal adverte que um príncipe deve saber usar as duas naturezas, e que qualquer uma delas sem a outra não é duradoura. (pag.93)
28º- (...), que quem quiser enganá-los encontrará sempre quem se deixe enganar. (pag.93)
29º- (...), é bom ser e parecer piedoso, fiel, humano, íntegro e religioso; mas é preciso ter a capacidade de se converter aos atributos opostos, em caso de necessidade. (pag. 94)
30º- (...). De modo geral, os homens julgam mais com os olhos do que com o tato: todos podem ver, mas poucos são capazes de sentir. Todos vêem nossa aparência, poucos sentem o que realmente somos, e estes poucos não ousarão opor-se à maioria que tenha a majestade do Estado a defendê-la. Na conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra a qual não há recurso, os fins justificam os meios. ( pag.95)
31º- (...). Um dos remédios mais poderosos contra as conspirações é não ser odiado pela massa popular; o conspirador acredita sempre que a morte do soberano satisfará o povo; se não acreditasse nisso, teria medo de se empenhar em tal empreitada, pois as dificuldades a serem vencidas são incontáveis. (pag.97)
32º- (...) príncipes devem estimar os grandes, mas evitar o ódio do povo. (pag.100)
33º- (...). Nenhum Estado deve crer que pode sempre seguir uma política segura; ao contrário, deve pensar que todos os caminhos são duvidosos. (pag.120)
34º- Há três tipos diferentes de mente: um compreende as coisas por si só; o segundo compreende as coisas demonstradas por putrem; o terceiro nada consegue discernir, nem só, nem com a ajuda dos outros. (pag.123)
35º- (...) . O imperiador é um homem discreto, não comunica seus propósitos a ninguém, nem recebe conselhos; mas quando age seus desígnios tornam-se manifestos e, descobertos, começam a ser criticados pelos que o cercam, o que o faz desviar-se do seu propósito. Em consequência, o que ele faz um dia, desfaz no dia seguinte; ninguém pode compreender o que deseja ou pretende, e suas deliberações deixam a todos na incerteza. (pag.126)
36º- (...) para os homens o presente é muito mais importante do que o passado; quando encontram o bem-estar no presente, limitam-se a gozá-lo, e nada mais procuram; de fato, farão tudo o que puderem para defendê-lo. (pag. 128)
37º- Vê-se, de fato, que, quanto a atingir os objetivos comuns a todos (a saber, a gloria e as riquezas), varios caminhos são seguidos: um emprega a cautela, outro, o ímpeto; um, a violência, outro, a astúcia; um a paciência, outro, a impaciência. E todos podem atingir seus objetivos seguindo caminhos diferentes. (pag.133)
38º-(...) “a guerra é justa para aqueles a quem é necessária; e as armas são sagradas quando nelas reside a última esperança”. (pag.138)
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